terça-feira, 6 de outubro de 2015

O Google é um padre ou um psicólogo?

Descobri algo interessante hoje. Digitei no google: "sem amigos, sem amor". Só retornou um único link que tratava realmente do assunto. Um adolescente reclamando que estava sozinho e sofria buling.
Todo o restante eram dúzias e dúzias de links tentando consolar o cara. Religiosos tinha aos montes. Quem diria? Alguém dentro do Google decidiu que ao detectar depressão deveria direcionar o deprimido para o remédio, mesmo que seja um placebo. Vai que dúzias de links dizendo e mostrando mais deprimidos leva o cara para o suicídio? Google tá fora dessa. Padre ou psicólogo?

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Canção do Tamoio - Gonçalves Dias - 1846

Não poderia deixar de publicar em meu blog um dos mais lindos poemas já escritos na língua portuguesa, e que retrata de forma ímpar o que é a vida. Foi escrito pelo poeta brasileiro Antonio Gonçalves Dias e publicada em meados do século XIX. Entre suas obras estão: Primeiros Cantos, Segundos Cantos e Sextilhas de Frei Antão, I-Juca-Pirama e Canção do Exílio.

Canção do Tamoio - Gonçalves Dias

I

Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.

II

Um dia vivemos!
E o homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia,
Condor ou tapir.

III

O forte, o cobarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves conselhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!

IV

Domina, se vive;
Se morre, descansa
Dos seus na lembrança,
Na voz do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,
Que a morte há de vir!

V

E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.

VI

Teu grito de guerra
Retumbe aos ouvidos
D'imigos transidos
Por vil comoção;
E tremam d'ouvi-lo
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
Pior que o trovão.

VII

E a mãe nessas tabas,
Querendo calados
Os filhos criados
Na lei do terror;
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga
Talvez não escute
Sem pranto, sem dor!

VIII

Porém se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do inimigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranqüilo nos gestos,
Impávido, audaz.

IX

E cai como o tronco
Do raio tocado,
Partido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa, conquista
Mais alto brasão.

X

As armas ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate
Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Ditados da Cultura Americana nos quais Acredito

There is no such thing as a free lunch = não existe almoço grátis.

Nada é de graça. Alguém pagou por aquilo para outra pessoa. Alguém gastou tempo trabalhando para produzí-lo.

If you pay peanuts, you get monkeys = ao pé da letra: se você paga com amendoins, você contrata macacos.

Acho que a idéia é: se você paga mal, só vai conseguir colaboradores desqualificados.

Me Chama de Coxinha

O texto a seguir pertence a terceiros. Não se conhece a identidade do autor porém achei que o texto dá uma boa resposta para uma turma que, ao invés de participar do debate, gosta de rotular os que não pensam como eles com palavras e apelidos chulos, como coxinha. Parabéns ao autor, seja ele quem for.

“Quer me chamar de coxinha, paneleiro, elite branca, bebedor de Black Label (parabéns pra esse último! Sensacional!)…Ok. Acho até divertido… mas faz um favor para o seu país antes: emprega alguém! Na CLT! Paga tudo direitinho! Pega toda a sua grana e coloca na sua ideia…
No seu negócio. Pega um financiamento, com a maior taxa de juros do mundo, e arrisca seu pescoço na sua iniciativa… Aluga um escritório ou uma loja! Compra um estoque! Corre o risco de verdade! Se o governo tirar o incentivo para o consumo, não desanima…
Pega outro empréstimo, com a maior taxa que o mundo moderno já viu! Paga os juros do primeiro empréstimo com outro empréstimo! E vai com fé na sua idéia! Paga o décimo terceiro e as férias do teu funcionário! Sem vender merda nenhuma em Dezembro… Janeiro… Fevereiro… Nem no mais lindo Carnaval do mundo, quando todo mundo para de trabalhar… Ou na Copa das Copas que te deu 12 dias úteis num mês corrente…
Paga mais para os teus fornecedores, já que os seus custos também aumentaram devido à energia, gasolina e dólar… Mas, diminui o seu preço, pra tentar ser competitivo numa economia recessiva…
Então, tenta fazer com que uma estrutura enxuta seja perene. Acaba com sua eficiência! Vai ser difícil, já que o seu cliente está quebrado e não pode te pagar mais… E corre o risco de quebrar de vez, perdendo todo capital que você investiu… Fez tudo isso? Então beleza!!! Me chama do que quiser… Você é um herói e não me interessa qual partido apoia! Tem o meu respeito!!!

Não fez nada disso? É político de carreira? Está encostado em alguma bolsa? Mama na teta do governo? É vagabundo?  E pensa que pode falar sobre patrão e empregado, classes sociais, oportunidades e exploração da cadeia produtiva…Desculpa, mas…Cala a boca!”


domingo, 9 de agosto de 2015

Brasil, País do Futuro


Meu pessimismo está a mil! O domingão deixou meu espírito preparadíssimo: solidão, saudade, saúde complicada, do jeito que o capeta gosta. Para aproveitar a fase, lá vai mais uma.

Stefan Zweig,
 escritor, romancista, poeta, dramaturgo, jornalista e biógrafo nascido em 1881 em Viena, Áustria, e falecido no Rio de Janeiro em 1942, onde cometeu suicídio, escreveu um livro em tom jornalístico chamado "Brasil, País do Futuro", publicado em 1941. 

Não possuo conhecimento suficiente nem possui importância para esse texto, saber se foi a primeira vez em que essa expressão foi utilizada, o que parece ser, pela data. Em minha vida já a ouvi várias vezes. Eu a associo a outra expressão que foi atribuída ao Professor e Economista Antonio Delfim Neto, a quem admiro por sua erudição e profundo conhecimento na área de economia (não quer dizer que concorde com todas suas ideias). Refiro-me  à frase "para repartir o bolo é preciso esperar que ele cresça". Apenas para registro, o ex-Ministro repudia e não reconhece esta paternidade.

Na época em que esta segunda expressão ficou famosa, era uma espécie de desculpa que o governo utilizava para justificar sua ineficiência em conseguir que o país progredisse como necessário, em melhorar a distribuição de renda.

Sem sombra de dúvida, o Brasil progrediu, mesmo que não da mesma forma, junto com os países mais desenvolvidos , desde que me conheço por gente. Hoje temos internet, indústrias, comunicação e interatividade com o resto do mundo. Mas ainda não conseguimos deixar de ser o país do futuro.

O que melhor demonstra essa condição ainda é a falta de patentes, de produtos originalmente desenvolvidos aqui. Em nosso dia-a-dia utilizamos smartphones chineses com chips e programas coreanos ou americanos; carros alemães, italianos, japoneses e agora também coreanos; medicamentos americanos, alemães, israelenses e assim por diante.

Temos nichos de excelência, sim. A nossa tão patriota e politicamente utilizada Petrobrás é um bom exemplo. Nome que nos traz terríveis lembranças nos dias de hoje. Mas não é sobre isso o assunto. Temos válvulas para o coração, da minha cidade natal. E não poderia deixar de citar aquele que considero o maior caso de sucesso brasileiro: o trio AMBEV: Jorge Paulo Lemann,  Marcel Hermann Telles e Carlos Alberto Sicupira, a quem admiro por sua competência empresarial. Bem, esses últimos não se encaixam na ideia de patente brasileira inovadora para o mundo. Mas sua maneira de administrar negócios sem dúvida impôs mundialmente a cara brasileira, em vista das inúmeras empresas líderes mundiais das quais são donos.

Mas o Brasil continua sendo e, pelo andar da carruagem, não se vislumbra nem num longínquo espaço de tempo qualquer mudança em sua posição de País do Futuro. Desenvolver e por em produção patentes próprias envolve pilares econômicos que não fazem parte da cultura brasileira. Educação como prioridade para a família é a principal delas. Política industrial de longo prazo, respeito aos contratos, legislação tributária padronizada e de fácil administração pelo contribuinte, além de uma infraestrutura que acompanhe as necessidades do povo e da produção com uma defasagem máxima de 5 anos. Esses são apenas aqueles que considero principais e que mais me interessam.

Apenas como exemplo vamos falar de educação e infraestrutura. No Brasil o custo médio de construção do quilômetro de uma rodovia é de R$ 6,4 milhões. É muito dinheiro. Fora alguns casos, digamos, "especiais" em que se gastou R$ 16 milhões por quilômetro, como ocorreu num trecho da BR-440 que corta Juiz de Fora/MG. Mas o que ocorre, no Brasil, além da falta de estradas, mesmo quando elas são construídas, reformadas ou ampliadas, isso ocorre com tanto atraso que a necessidade geralmente seria o dobro ou o triplo do que foi feito. Ou seja, além de chegar com 20, 30 anos de atraso ou mais, quando finalmente chegam vem apenas a metade ou um terço da dose que seria recomendada para o paciente. Enquanto os países desenvolvidos aplicam entre 4% e 12% do PIB em infraestrutura, o Brasil só consegue aplicar 0,5%. Segundo especialistas, seria necessário que o Brasil investisse 5% do PIB em infraestrutura pelos próximos 5 anos apenas para tirar o atraso. Ou 10 vezes mais o que é investido hoje, o que todos sabemos jamais acontecerá.

Hoje existe um reconhecimento da extrema necessidade de se aumentar o nível educacional do brasileiro, por parte dos governos. Mas uma coisa é saber o diagnóstico, outra coisa é conseguir curar o paciente. 
Consideradas apenas pessoas entre 25 e 34 anos que possuem diploma de grau universitário, segundo relatório de 2011 da OCDE (veja no google que bicho é esse), o Brasil consta na 36a colocação, numa lista de... 36 países.  Segundo relatório da citada entidade do ano de 2010, enquanto apenas 12% dos estudantes brasileiros que terminam o ensino médio entram na universidade, no Chile o índice é de 38% e no México de 22%. Dessa vez o Brasil aparece em penúltimo lugar na lista da OCDE, ganhando apenas da China.

No nosso meio universitário, principalmente nas melhores universidades gratuitas, ainda domina uma visão retrógrada e sem qualquer base racional de que as universidades são apenas para formar o estudante e não para fazer parcerias com as empresas.  Valha-me Deus, nem acredito que são pessoas com mestrado e doutorado falando uma besteira desse tamanho! Seria o conhecimento pelo conhecimento? De que vale o conhecimento que não se aplica ao mundo real, que não leva mais conforto, segurança ou saúde ao ser humano? E isso só é possível com experiências junto às empresas de verdade. Certo, formar o estudante.... para quê mesmo? Ah, sim, para o mercado! E não para ele ficar contente em saber tanta coisa, né? 

Poderíamos prolongar a ladainha no setor da saúde, da segurança, mas isso seria enfadonho e foge ao objetivo do texto.  Tenho hoje 50 anos de idade e vislumbro hoje um país que acompanha as novidades tecnológicas do mundo mas que não consegue traduzir em conforto e prosperidade à população, com diretrizes sólidas que indiquem que o Brasil é um país do presente, que deixou para trás desculpas e singelas esperanças e não é mais aquele eterno país do futuro decantado desde 1941 por um escritor austríaco que se encantou por nossas terras, como acontece com tantos estrangeiros que se iludem por nossas belezas naturais e nossa liberalidade, se esquecendo de ver o sofrimento do dia-a-dia do povo e a ausência total de projetos de longo prazo.


O Brasil tornou-se especialista em perder os bondes da história. Perdeu o bonde das comodities, perdeu o bonde das contas atuariais associadas à nossa demografia e está perdendo o bonde do pré-sal. Bem, me restam em torno de 20 anos de vida e me aposento em 8 anos. Aos que ainda têm a vida toda pela frente, bom futuro!


sábado, 20 de junho de 2015

Dilma bate recorde de desaprovação - junho/2015

Dilma atingiu sua menor aprovação e consequentemente sua maior desaprovação em junho/2015 - 10% ótimo e 65% ruim ou péssimo.
Comentário de internauta a respeito: "O que chegará primeiro a 5: o dólar, a gasolina ou a aprovação de Dilma?".

terça-feira, 26 de maio de 2015

ESCOLA E DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

Quem me conhece sabe que sou pessimista. E como todo bom pessimista me auto considero apenas realista.

Eu gosto demais do tema educação. Já produzi 3 apresentações em forma de slides a respeito do tema, baseadas em reportagens publicadas na VEJA.

Acompanho com bastante atenção as publicações estatísticas do governo brasileiro e da OCDE - olhem no google o que significa. Sigo os artigos a respeito do assunto, escritos por especialistas. Fico tentando descobrir o que nos falta para sermos iguais aos países que produzem estudantes brilhantes.

E escrevo esse texto porque infelizmente acho que descobri.

Infelizmente porque não tenho boas notícias. Depois de ler e estudar muito a respeito do assunto, é com tristeza que informo, a quem porventura ler esse texto, que o Brasil não vai atingir o mesmo nível dos melhores países, no que diz respeito à capacidade de conhecimento de sua população.

Não é só uma questão de qual porcentagem do PIB um país gasta com isso. Não é só o salário do professor, embora um dos problemas seja esse por uma questão muito básica, já há muito descoberta pelos pesquisadores do assunto: a baixa atratividade salarial e de carreira acabam afastando da profissão as melhores cabeças. Mas não, não é isso. Além disso, sinto informar aos que cursam pedagogia: as secretarias de educação do país, no nível de ensino fundamental, seja municipal ou estadual (as federais tem um pouco mais de dinheiro) não possuem e nunca possuirão dinheiro suficiente para suportar por longo prazo uma folha de pagamento gorda e uma boa manutenção das suas instalações físicas, devido o tamanho de ambas. Se você é um professor municipal numa cidade humilde que lhe proporciona uma carreira interessante, ponha os joelhos no chão e agradeça, aqui você é um privilegiado.

O motivo é outro e muito simples: o brasileiro não tem prazer no aprendizado; ele simplesmente não é, não quer e não será assim.

Minha experiência pessoal nessa área é a seguinte: sempre fui um dos primeiros em todas as salas de aula por que passei. Obtive excelente classificação em todos os concursos em que fui aprovado. Porque desde que me conheço por gente eu não aceito não saber uma coisa que me interessa. Não saber algo que é do meu interesse, seja matemática, história ou geografia, me angustia de tal forma que corro atrás e aprendo.

Na minha formação básica sempre estudei em escolas muito humildes, que passavam longe de serem consideradas de primeira categoria, ou que propunham a seus alunos as mais eficientes práticas pedagógicas. Durante apenas um ano estudei numa escola particular. Justamente no último ano antes de entrar na faculdade.  Todos os outros anos de estudo foram feitos em escolas estaduais, as menos eficientes hoje, em cidades pequenas. Essa foi minha educação formal, hoje chamada de ensino fundamental. Fiz uma boa faculdade apenas - pública. Então o que fez a diferença para o nível de conhecimento e diploma que atingi em minha vida foi... apenas a minha vontade.

E minha pesquisa e leitura a respeito do assunto somente confirmou ainda mais essa minha conclusão. O que os países da OCDE que se posicionam nos primeiros lugares dos resultados educacionais têm é justamente um grande interesse, por parte de sua população, por aprenderem, por estudarem com perseverança e seriedade. E é justamente o que falta ao brasileiro. Não é sua praia; não é seu perfil; não lhe toca o coração.

Hoje, muito mais do que na minha época de estudante neófito, o conhecimento está fartamente disponível, em cores, gráficos, fotos, textos inclusive de renomadas universidades, em vídeos e de graça, pelos melhores professores que se poderia imaginar, na internet. Claro, desde que se tenha tempo e um computador. Basta apenas o que acabei de falar, o mais importante: VONTADE e prazer do usuário em aprender. A informação nunca esteve tão descentralizada e independente das grandes cidades ou de escolas de renome. Depende, mais do que em qualquer tempo, única e exclusivamente do aluno.

E isso o brasileiro não tem e não parece que irá ter sequer em longo prazo. Se alguém souber como se insere isso na personalidade, por favor, nos salve, porque sem isso não há (não duvide nem por um segundo disso), repito: NÃO HÁ a menor possibilidade do Brasil dar o passo que falta para se inserir no primeiro mundo. Nem petróleo, nem soja, nem aço, nem governo, nem líder, nem político nem nada pode fazer isso pelo Brasil.

OS POBRES E A SAÚDE

P.S. - após a greve citada no texto abaixo, os médicos conseguiram que a prefeitura implantasse sua reivindicação. No último concurso, aberto em junho/2015, o salário do médico das UBS pode chegar a R$ 14.331,20, desde que o interessado aceite trabalhar pelo menos 24 horas por semana, ou 4,8 horas por dia útil. Nada mal, hein? O concurso foi feito pela Fundação VUNESP.

Parece que, pelo menos em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, ficou bem claro por que a população tem de esperar 3, 4 ou mais horas para receberem atendimento médico nas Unidades Básicas de Saúde - UBS. Isso quando não têm de voltar para casa sem atendimento. É um caso que merece uma análise mais detalhada porque joga luz em todas as unidades do SUS espalhadas pelo Brasil.

Os médicos que prestam atendimento nessas unidades iniciaram uma campanha em maio de 2015 por melhores salários e condições de trabalho. Reivindicam um piso salarial de R$ 12 mil. Para quem não sabe, como eu não sabia até o momento em que escrevi este texto, a carga horária desses médicos é de 20 horas semanais, segundo edital da prefeitura de Rio Preto, n. 001/2011, que tentou contratar, entre outros, clínico geral, psicólogo e pediatra, provavelmente as 3 especialidades mais procuradas pelos pacientes.

Segundo pude apurar, essa é a carga horária mínima que pode ser exigida desses profissionais, conforme Portarias do Ministério da Saúde 2.488/2011 e 3.124/2012 para os NASF 1, 2 e 3 - Núcleo de Apoio à Saúde da Família.

Mas, voltando à vaca fria, enfim ficou claro o que os médicos não aceitam: trabalhar 20 horas semanais recebendo em torno de R$ 4 mil. É o que a população, a imprensa e o Ministério Público já constataram inúmeras vezes, quando vão aos postos médicos e não os encontram por lá. Some-se a isso que nos últimos 6 anos 56 médicos pediram demissão (exoneração) dos seus postos de trabalho nas UBS, comprovando seu descontentamento e repúdio ao salário atual.

E para confirmar definitivamente tal posição, a reivindicação no mais recente movimento da categoria ainda informa qual seria o patamar salarial aceitável para que cumprissem 20 horas semanais nas UBS: R$ 12 mil. Ou seja, muito longe da realidade. Não podemos deixar passar a oportunidade de calcular, mediante o valor que os médicos consideram justo pelas 20 horas semanais, qual o tempo que corresponderia ao atual valor recebido. Vejamos: 4 mil reais corresponde a um terço dos 12 mil reais pretendidos. Então, se calcularmos um terço das 4 horas diárias hoje obrigatórias, descobriremos que o atual salário, pela visão dos médicos, paga apenas 1 hora e 20 minutos. Realmente, se cada médico comparece apenas 1 hora e 20 minutos por dia, ou 6 horas e 40 minutos por semana, torna-se totalmente compreensível as longas horas de espera a que são submetidos os pacientes.

Em que pese os mais recentes prejuízos à população, devido o movimento deflagrado pela categoria médica, vejo essa conclusão como algo extremamente positivo para todos os envolvidos. Até agora, os pacientes esperavam horas ou não eram atendidos, os médicos não cumpriam sequer as 20 horas semanais nas UBS e o governo pagava por serviço não prestado e posava como culpado pela falta de atendimento à população. Ou seja, todos perdiam. Inclusive os médicos, que se submetiam a um trabalho onde visivelmente estavam muito insatisfeitos, cometendo a grave falta de não comparecerem ao trabalho que haviam aceitado.

Ao que parece o movimento dos médicos teve início com a adoção do ponto de jornada eletrônico a que começaram a ser submetidos. Que por sua vez foi implantado porque os pacientes não aguentavam mais - e com toda razão - esperarem mais de 5 horas para receberem atendimento. É a velha lei de ação e reação. Os médicos afetaram os pacientes, que afetaram o Ministério Público, que afetou o governo, que afetou os médicos, que agora disseram: pára que vamos descer!

Pelo menos a partir de agora as cartas estão abertas na mesa. Os médicos não fingem mais que trabalham, a prefeitura não finge mais que controla seu comparecimento ao trabalho e os pacientes não recebem mais desculpas esfarrapadas. Algo vai acontecer de concreto, nem que seja apenas o reconhecimento, por parte do governo, de que é incapaz de oferecer atendimento médico gratuito à população.

Apenas um adendo: fica difícil entender a exigência salarial reivindicada pela categoria médica, quando seu próprio sindicato firmou, com o sindicato dos hospitais e vigente até agosto de 2015, convenção coletiva de trabalho, onde consta que o piso da categoria, para 20 horas semanais, é de R$ 3.300,00. Na data em que escrevi este texto, 26/05/2015, a citada convenção estava disponível neste endereço: http://www.sindhosp.com.br/convencoesEAcordosColetivos.asp?area=M%E9dicos&id=8215

sábado, 24 de janeiro de 2015

TERRORISMO E LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Terrorismo não é guerrilha. Terrorismo, como o próprio nome diz, visa essencialmente espalhar o terror, o medo, o pânico pela população atingida. Não tem intenção de assumir o poder político da região que é atacada, nem de atrair a simpatia da população. Por isso não se importa com o perfil das pessoas atingidas pela sua ação, procurando apenas causar o maior número de sofrimento possível. Ocupa, assim, lugar especial no índice de maldade imaginável pelo ser humano, ao lado da tortura.

Não pretendo aqui trazer uma luz definitiva sobre a polêmica criada pelo ataque terrorista, de pessoas que se diziam guiadas pelo islamismo, contra o jornal francês Charlie Hebdo. Apenas uma sugestão.

Em confronto duas ideias que calam fundo ao mundo ocidental, àqueles que possuem algum grau de instrução e que defendem a democracia: de um lado a liberdade de expressão, de outro o respeito ao próximo. Alguns argumentaram que se começarmos a limitar ou censurar a liberdade de expressão, corremos o risco de sermos obrigados a fecharmos as portas de todo e qualquer meio jornalístico, pois seria impossível atender a todas as demandas por censura. Ao mesmo tempo, como fica o respeito aos sentimentos de terceiros? Até que ponto é lícito, aceitável e justificável ofender a conduta, a moral ou a ideologia de alguém? Não estariam tais direitos inseridos na bandeira que modificou o mundo em 1789: Liberdade, Igualdade e Fraternidade? Garantimos a Liberdade mas não a Fraternidade? E ainda: tudo tem limite, menos a liberdade de expressão?

Como disse ao início, polêmica é polêmica. Tenho opinião formada, mas não a externarei no momento porque ainda não me sinto suficientemente preparado. Todavia, deixo uma sugestão que acredito poderia servir bastante bem para nortear as liberdades de expressão. Aqui vai: você está caminhando pela savana Africana, fazendo turismo, desarmado, e de repente se vê frente a frente com um rinoceronte de 2 metros de altura, pesando 4 toneladas, há 50 metros de distância. O rinoceronte, após alguns segundos, parte pra cima de você. O que você faz? Algumas pessoas e alguns grupos populacionais, quando se trata de debate de ideias, ainda são como rinocerontes para mim, mesmo em pleno século XXI. Quando sou obrigado a interagir com elas, ajo de acordo. Na savana, assim como no mundo dos homens, o melhor a fazer é ficar o mais distante possível do rinoceronte e evitar a todo custo ser alvo de sua atenção, pois, como se sabe, ele não é sensível e nem está disposto a ouvir nossos argumentos. Só o que sabe fazer é nos atropelar.