domingo, 13 de março de 2016

O DEFEITO PERFEITO NO CÉREBRO

Ontem assisti a um filme do qual gostei muito: O Jogo da Imitação. É o nome de um dos trabalhos acadêmicos do grande matemático inglês Alan Turing.

Alan Turing é um dos pais da computação. A máquina que desenvolveu, para decifrar a criptografia utilizada pela Alemanha durante a 2ª Guerra Mundial, é considerada um dos primeiros computadores. A teoria de seu funcionamento é utilizada até hoje nos livros da área e recebeu o nome de “máquina de Turing”, em sua homenagem.

Turing é um dos gênios matemáticos que passaram pela Terra, tão precoce quanto outros nomes famosos. Tem-se oportunidade de conhecer em detalhes, através do filme, como pensa e se relaciona com o mundo uma pessoa que tem esse dom que é ao mesmo tempo uma maldição.

Fiquei emocionado ao descobrir que conseguiram colocar num filme, de maneira muito realista, as dificuldades de adaptação à vida real de pessoas assim, de pessoas como eu. Os filmes a respeito de matemáticos famosos a que havia assistido, até agora, nunca conseguiram captar esse ponto de vista com realismo.

Costumo dizer que, para fazer o que fazemos, para gostar do que gostamos, é preciso nascer com o defeito certo no cérebro. Somente a idade me mostrou que as dificuldades de convivência social que sentia proviam desse defeito perfeito.

Acredito ser essa a causa de uma desistência em torno de 50%, nos cursos da área de informática, logo no primeiro ano. Muitos do público que gosta de videogames pensam ter aptidão para a carreira, mas logo descobrem que os desafios inerentes à área exigem um ajuste a mais de alguns parafusos, que nem todos têm. Até parafusos tortos parecem ajudar.

Ele nos permite sentir extremo prazer ao passar horas e horas tentando decifrar ou descobrir uma solução para um problema lógico, matemático. Praticamente não há frustração nessa busca. É uma obsessão incontrolável que derrama serotonina o bastante para fazer com que o cansaço só seja percebido após muitas horas de esforço mental. E só há prazer em recomeçar no dia seguinte.

Mas ao mesmo tempo, como ficou bem demonstrado no filme, a convivência social se torna um fardo. O relacionamento com as pessoas precisa ser estudado, conceituado e rotulado, como acontece com Turing no filme, para que consigamos dar alguns passos, enquanto a maioria das pessoas já andaram várias quadras. Como um ET, relacionar-me com as pessoas é um aprendizado muito mais difícil do que qualquer problema matemático com que já tenha me deparado.

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