domingo, 6 de março de 2016

O VALOR DA PALAVRA NO BRASIL E SUA CONSEQUÊNCIA PARA A CORRUPÇÃO

Qual o valor da palavra na cultura brasileira? Eu penso que é pouco. Muito pequeno.
É um atributo tão raro e, por assim dizer, inesperado, que indivíduos que a têm são guardados nas histórias que o povo espalha pelo tempo.

Como sempre, o governo é sempre apontado pelos maus exemplos. Mas, afinal, não se poderia esperar nem exigir um comportamento da população que o próprio governo não pudesse exemplificar. Principalmente quando algum político é pego e encarcerado pela justiça, recebendo uma indevida propina. Mas depois de analisar a culpa do governo no caso específico do peso deu sua palavra, conclui que ele é um professor muito didático para o mau comportamento dos brasileiros.

Não é nem pelos casos de corrupção que se multiplicam em tempos de lava jato. O contato da população com a falta de palavra do governo é muito mais explícita e numérica. Toda vez que um paciente procura um posto de atendimento médico, conhecidos hoje por UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e não consegue ser atendido, seja pela falta de médico, medicamento ou alguma greve da ocasião, ele sente na pele a falta de palavra do governo.

Porque o governo disse a todos nós que, se pagássemos impostos, teríamos atendimento médico  gratuito, segurança pública e escolas. E cada falha nesses serviços, às quais os brasileiros são submetidos diariamente, 365 dias por ano, demonstra que o governo não tem palavra. Hora, de quem poder-se-ia e dever-se-ia esperar o principal exemplo? E, na prática, qual o exemplo que está sendo dado? De que a palavra não tem valor algum.

Essa quebra de contrato, essa falta de palavra não é tão explícita quanto em outros casos como o da farsa da redução no valor da conta de energia elétrica, por exemplo. Nesse caso, a grande maioria da população sequer desconfiou da brutal quebra de contrato que o governo praticou, pois não ocorreu diretamente com ela, mas com as distribuidoras e geradoras de energia. Mas é outro típico exemplo de falta de palavra. Dessa vez prevista em contrato, preto no branco. É uma das constantes reclamações dos investidores: recorrente quebra de contratos por parte dos governos brasileiros, incluindo estados e municípios.

Mas como a psicologia apregoa e nossa experiência comprova, o exemplo ensina. E quando o governo falha ou deixa de fornecer uma necessidade básica à população, como o carro quebrado por um buraco na estrada ou a demora de 2 horas para chegar em casa depois do serviço, através do transporte público, mesmo que subliminarmente é isso que o governo está ensinando à população: no Brasil a palavra não vale nada.

Fica difícil esperar, então, uma real e quantificável mudança de atitude, de cultura, no que diz respeito à corrupção. Afinal, o valor da palavra, e por consequência seu cumprimento, não é a espinha dorsal da moralidade?

Antes que alguém ponha palavras em minha boca, esclareço: isso não é uma desculpa para quem não resiste ao canto da sereia Propina. Honestidade, como outros valores morais importantes, vem de berço, que só uma família estruturada ou ao menos um pai ou uma mãe seguros como o mastro de um navio conseguem transmitir. Mas como família, na verdadeira acepção da palavra, é artigo de luxo nesses fins de tempos, um governo sem palavra pode ser o empurrão que faltava na beira do precipício.

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